domingo, 10 de julho de 2011

Como está nossa Afetividade e Sexualidade?

O texto abaixo foi escrito por Marcelo Batista, ex-seminarista barnabita; uma reflexão acerca da superficialidade das relações contemporâneas, sejam com as coisas ao nosso redor, sejam com as pessoas.


Diante das transformações da sociedade nos últimos cinqüenta anos poderíamos nos perguntar se trata de “uma mudança de tempo ou tempo de mudanças”. Todos os “valores” e propostas provêm fundamentalmente de um ambiente social permeado pela busca constante de intensa satisfação pessoal, sobretudo na incansável busca do prazer. Hábitos, conceitos e práticas humanas ganharam nova roupagem. Está claro que há uma mudança de tempo.

As questões pessoais se sobrepõem às comunitárias em um mundo onde todos apenas consomem para seu bel prazer, pelo prazer em si mesmo. “Sentir-se bem”, se tornou notadamente um “slogan”. E isso de todas as maneiras possíveis. Praticamente tudo começou com a consolidação do mercado produtor e o consumo cada vez maior por parte dos indivíduos. As pessoas se sentem bem ao comprar sempre mais, pois as necessidades vão surgindo e é urgente satisfazê-las. E para fomentar sempre mais o consumo, investe-se em uma metodologia propagandística que promove o desejo crescente de necessidades nas pessoas. O desejo passa à categoria de “motor” nos indivíduos, impulsiona-os. Satisfazer os desejos com isso ou aquilo resume a vida das pessoas. Nesse ambiente, “sentir-se bem” não diz respeito à convivência com outras pessoas; prescinde-se das relações interpessoais.

Essa lógica do prazer evidentemente abrange a pessoa em todas as áreas da existência. Na sexualidade fazem-se tudo por prazer, por gozo. De uma situação de extremismo, de tabus na sociedade passou-se à completa “liberdade” nas questões sexuais. Se em um dado momento histórico anterior o sexo servia para a procriação, atualmente deparamos com uma hiperssexualização que transforma a sexualidade como meio de relações focalizadas no intuito pessoal. O prazer sexual conforma a vida do sujeito, na medida em que passa a compor o cotidiano. E para isso sentimentos humanos mais duradouros não servem, pois a relação sexual é apenas da ordem da satisfação do desejo, do prazer. A sexualidade humana vivida no âmbito da experiência, como a confiança, a amizade, o cuidado de outrem é vivida agora unicamente como expropriação do corpo. Juntamente com essa concepção de sexualidade alia-se o alto grau de sensualidade, de erotismo, que trazem à tona uma nova definição de corpo humano. Isso causou, sobretudo, uma mudança estética, pois se afirma o corpo tendo em vista sua objetivação como "lugar" de prazer. O conceito de beleza corporal está submetido somente à sua finalidade nessa cultura contemporânea, ou seja, servir como instrumento de prazer.

Nesse quadro, podemos afirmar que as relações humanas sofreram alterações significativas. Dentre elas o papel que desempenhava o homem e a mulher na sexualidade. Os parceiros estavam “definitivamente” definidos heterossexualmente, e algo diferente disso era considerado anomalia, patologia. E essa condição já se sabia que vinha com o sujeito na formação intra-uterina, na concepção. Funcionava como força de “lei” natural imutável. O salto dessa visão de sexualidade humana reside na compreensão, por parte de alguns teóricos e na prática de várias pessoas, de que o homem e a mulher nascem com um órgão sexual, mas como se dá a experiência com esse órgão depende da decisão pessoal do sujeito. Cabe ao indivíduo escolher se terá relações heteroafetivas, homoafetivas ou ambas juntas, ao optar ora por uma ora por outra. Isso tendo em vista que quem determina a sexualidade é a história e a cultura.

Fica claro que os padrões sociais sofreram alterações em suas bases estruturais. O que sustentava o modo de vida dos sujeitos e das famílias mudou radicalmente. Aos jovens coube a maior parcela dessa herança social e cultural. Paira no campo de decisões das pessoas a dura tarefa de escolher entre absorver tamanha mutação histórica ou manter-se afastado disso, mas correndo risco de se tornar um corpo estranho no conjunto total da composição da sociedade.

Assim, a vivência da sexualidade, ou melhor, a experiência humana da sexualidade aparece como um campo de encruzilhadas, caminhos e descaminhos desprovidos de qualquer certeza em uma cultura, cujo objetivo incide na satisfação incessante dos desejos dos indivíduos.

Enfim, essas mudanças deslocam um ambiente cultural já constituído há décadas. Aí se encontra o desafio: pensar como o ser humano está situado nesse novo ambiente social instaurado pela força de decisão dos indivíduos preocupados com o gozo e com o prazer.

Por: Marcelo Batista

Disponível em:
http://vocacionalbarnabita.blogspot.com/2011/06/como-esta-nossa-afetividade-e.html

quinta-feira, 3 de março de 2011

O Bushido

A Filosofia do Bushido


A disciplina e o autocontrole oriental é um assunto que chama a minha atenção e de alguns colegas, por isso vou expor uma filosofia interessante, o Bushido.

Originário do Japão Feudal, o Bushido significa “o caminho do guerreiro”. O pensamento do Bushido instiga seu seguidor a agir com honra, cortesia e sobretudo com serenidade.

Adotado pelos samurais na época dos Shogunatos (ou feudos) o Bushido representava o oposto da realidade dos guerreiros: uma vida violenta, sem certezas, devotada ao seu senhor, não importa a situação. Com raízes no Budismo e no Confucionismo, teve seu auge entre os séculos 12 e 16.

A influência do Budismo no Bushido se revela na ausência do temor da morte; não há motivo para tal sentimento, pois de acordo com o budismo, existem outras vidas além da atual.

A influência do Xintoísmo no Bushido se revela na lealdade do guerreiro samurai ao sue senhor, nas mais adversas circunstâncias. Tal influência se manifesta também no patriotismo japonês durante à aquela que é considerada a Segunda Guerra Mundial.

Já o Confucionismo se manifesta no Bushido pelo reconhecimento e veneração aos familiares. A justiça, benevolência, sinceridade e honestidade também oriundas das três correntes filosóficas que integram o Bushido.


Aspectos

Alguns aspectos importantes do Bushido demonstram a importância do autocontrole e disciplina das filosofias que o compõe. É interessante observar que o guerreiro deve pensar sempre na possibilidade de morrer a todo o momento.

Entre a pena e a espada

Para o Bushido, tão importante quanto saber lutar é devotar o espírito para o intelecto. O guerreiro deve conhecer todos os ofícios, praticar arte – seja pintando, escrevendo ou compondo melodias. Quando não ocupado com seus deveres militares, o guerreiro deve estar lendo ou escrevendo.

Para a honra, o guerreiro deve ser sempre cortês, sobretudo com seus familiares. A etiqueta também deve ser praticada na guerra: é proibido para aquele que segue a filosofia do Bushido abandonar um combate, ainda que esteja em desvantagem numérica; não lhe é permitido também matar o inimigo com trapaças e venenos.

Vê-se então que a disposição ao aprendizado é uma característica primária do Bushido, sem a qual, não se pode praticar e usufruir de seus preceitos mais salutares. Nesse sentido, a preguiça é um mal que deve ser evitado a todo custo, incessantemente.

O desapego às coisas e pessoas, o constante pensamento sobre a morte – no sentido de que deve se fazer algo como se o fizesse pela última vez –, faz com que o praticante do Bushido contemple mais as pessoas ao seu redor e se esforce para realizar seus atos à beira da perfeição. Assim, o indivíduo deve evitar entrar em confusões funestas, se embriagar, situações constrangedoras, etc., afim de manter, no caso de sua morte, uma boa memória ao seu respeito na mente daqueles que o conheceram.

O caminho do meio encontrado em diversos temas budistas se revela no Bushido no sentido de que o guerreiro não precisa se abdicar de nada, só não deve cometer exageros e praticar atos perniciosos.

Citações:

“Os homens devem moldar seu caminho. A partir do momento em que você vir o caminho em tudo o que fizer, você se tornará o caminho.”

"A vida de alguém é limitada; a honra e o respeito duram para sempre.”

“Para seguir o bushido é nessesário:
Dar ênfase à lealdade;
À fidelidade;
Ao auto sacrifício;
À justiça;
Ter modos refinados;
Ser humilde;
Ter espírito marcial;
Nunca abrir não de sua honra;
Para assim, poder morrer com dignidade.”

"O subconsciente possui à sua disposição um poder ilimitado,
só restringido pelas suposições do consciente."

O Livro dos Cinco Anéis


Quer saber mais?

Wilson, William Scott. Ideals of the Samurai: Writings of Japanese Warriors.

http://www.niten.org.br/

www.bushido-karatezen.org

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Mandamentos no Budismo?

Uma pergunta que frequentemente me fazem é se o Budismo possui mandamentos ou imperativos. Em princípio, não. Contudo, se observarmos alguns Sutras, eles parecem conter observações que dizem respeito à conduta. Eis aqui um exemplo, belíssimo:

"Tenhais confiança não no mestre, mas no ensinamento;
Tenhais confiança não nas palavras do ensinamento, mas no espírito das palavras;
Tenhais confiança não na teoria, mas na experiência;
Não creiais em algo simplesmente porque vós ouvistes;
Não creiais nas tradições simplesmente porque elas têm sido mantidas de geração para geração;
Não creiais em algo simplesmente porque foi falado e comentado por muitos;
Não creiais em algo simplesmente porque está escrito em livros sagrados;
não creiais no que imaginais, pensando que um Deus vos inspirou;
Não creiais em algo meramente baseado na autoridade de seus mestres e anciãos;
Mas após contemplação e reflexão, quando vós percebeis que algo é conforme ao que é razoável e leva ao que é bom e benéfico tanto para vós quanto para os outros, então o aceiteis e façais disto a base de sua vida."

Kalama Sutra




sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O Islam e suas concepções


Diferentemente do extremismo e fanatismo que observamos hoje nos veículos de informação, o Islam se revela uma doutrina humanista e que em sua raiz demosntra profunda consideração a todos os seres vivos.

Diferentemente do que pensamos, o Islam não tem um único profeta. Eles acreditam em Noé, Abraão, Elias, Jonas, Jesus, Jó, Davi e Salomão. Contudo, acredita-se que a mensagem eterna de Deus para os homens foi transmitida para o profeta Mohammad, pelo Anjo Gabriel.

É comum se cometer o erro, para nós não muçulmanos, ao dizermos que os muçulmanos são seguidores de Mohammad, ou "maometanos", tal qual se diz que os cristãos são aqueles que se dizem seguidores de Jesus. No caso do Islam, é diferente, pois eles adoram somente a Deus - Allah, como se diz em árabe.

Apesar de parecer uma religião exótica, tem ganhado adeptos no mundo inteiro. Me surpreendi em descobrir que apenas 18% dos muçulmanos estão no mundo árabe. Tendo mais de um bilhão de adeptos, a maioria muçulmana se encontra na Indonésia.

Se observarmos, uma das razões da expansão do Islam no mundo se deve à simplicidade de sua doutrina: a crença em um Deus único e a incitação para a reflexão, serenidade e sobriedade dos seus adeptos. Segundo o próprio Mohammad, "procurar o conhecimento é uma obrigação para todo muçulmano e muçulmana". Tal comportamento geraram avanços na medicina, arquitetura, astronomia, física, etc.

Características


O Islam conta com a escritura sagrada do Alcorão - ou Corão - que, segundo a doutrina, é o registro das palavras reveladas por Deus por intermédio do Anjo Gabriel ao profeta. Ele trata não tão somente do relacionamento entre Deus e os homens, mas sobre caminhos a serem seguidos em busca de uma sociedade justa com condutas sóbrias e sistema econômico equitativo.
Além do Alcorão, a Sunna também é um importante escrito para o Islam, e crer nela faz parte da prática de seus adeptos.

A doutrina Islâmica se apóia nos Cinco Pilares: a fé, a oração, a clemência com os pobres, a auto-purificação e a peregrinação à Meca. Vejamos cada um deles, resumidamente.

A Fé
Esta é baseada na afirmação de que não existe outra divindade senão Deus, sendo Mohammad seu mensageiro. Essa declaração de fé é chamada chahada.

A Oração
Salat - são as cinco orações obrigatórias praticadas durante o dia. Elas contém versículos do Alcorão e são recitados em árabe - embora as súplicas, se assim podemos dizer, possam ser feitas no idioma de quem faz a oração.
As orações são feitas na alvorada, ao meio-dia, no meio da tarde, ao crepúsculo e à noite.

Zakat - Clêmencia com os pobres
Esse é um princípio de grande importância para os islâmicos. Zakat significa "purificação". Para os islâmicos, as suas posses são purificadas com a separação de uma parte dela para os necessitados, assim como a poda das plantas: o seu corte a equilibra e estimula novos crescimentos. (Bela concepção). O próprio Profeta disse: "Mesmo encontrar a seu irmão com um rosto risonho é caridade".

Jejum - Auto-purificação
Todo ano, durante o mês do Ramadan, os muçulmanos jejuam, da alvorada até o pôr-do-sol, abstendo-se de comida, bebida e qualquer tipo de sexo. Segundo o Alcorão, aquele que estiver doente, for idoso, em viagem, a mulher grávida ou amamentando lhes é permitido quebrarem o jejum e o fazerem em outra época do ano. Se o adepto não pode fazê-lo, deve alimentar uma pessoa necessitada para cada dia não jejuado.
As crianças começam a jejuar a partir da puberdade, mas não existe uma idade mínima. A ideia é que, ao privar-se dos confortos mundanos, o jejuador adquire verdadeira simpatia por aqueles que sofrem de fome e outras necessidades.

A Peregrinação
A Viagem para Makka é uma obrigação somente para aqueles que são física e financeiramente capazes de empreendê-la. A peregrinação (ou haijj) é uma oportunidade para islâmicos de diversas partes do planeta se reunirem para se encontrarem. Os rituais são as sete voltas em torno da Caaba, e o percorrer sete vezes a distância entre os montes Safa e Marwa, como fez Hagar em sua busca por água. Antigamente, esse era um empreendimento árduo, mas hoje a Arábia Saudita oferece água, transporte moderno e facilidades no atendimento médico para os milhões de peregrinos.

Curiosidades


O Islam tolera outras crenças?
Sim! É função da lei islâmica proteger os templos dos não muçulmanos, bem como sua liberdade de culto, consta no Alcorão. É citado o exemplo do Califa Ômar, que entrou em Jerusalém em 634, e garantiu liberdade a todas as comunidades religiosas.

O Islam e as mulheres
Essa é a parte mais intrigante. Diferentemente dos exemplos que infelizmente aparecem hoje, a lei islâmica vê a mulher, solteira ou casada, como pessoa digna de seu próprio direito, de garantir sua propriedade e dispor de seu ganho. A mulher não é, segundo a lei do Alcorão, submissa ao homem: os dois são iguais, e submissos, os dois, a Deus.
"O melhor dentre vós é aquele que melhor trata a sua esposa, e eu sou quem melhor trata a sua esposa", diz Muhammad.
O casamento no Islam não é um sacramento, mas um acordo onde cada uma das partes é livre para incluir condições. Uma mulher não pode se casar contra sua vontade.

Quanto aos hábitos

Resumidamente, os muçulmanos devem manter hábitos saudáveis, que garantam a integridade de seu corpo e a sobriedade de sua mente. Segundo o Alcorão, depois da fé, nada é mais importante do que a saúde. Por isso, eles não ingerem bebidas alcoólicas, não comem carne de porco, não mantém relações promíscuas e não usam nenhuma substância inebriante.

O que eu quis frisar, resumidamente, além de suas principais características e curiosidades, é o respeito à multiplicidade de pensamentos que o Islam prega. A liberdade de consciência é declarada no próprio Alcorão.

“Não há imposição quanto à religião” (2ª Surata, versículo 256).

O racismo é incompreensível aos muçulmanos, uma vez que o Alcorão discorre sobre a igualdade humana várias vezes.

Para quem quiser conhecer melhor o Islam, indico:

Alcorão Sagrado; versão portuguesa diretamente do árabe por Samir el Hayek. São Paulo, Tangará, 1975.

HANNUDAH, Abdalati. O Islam em foco. Belo Horizonte: Centro Islâmico de Minas Gerais. 1989.

HAYEK, Samir el. Compreendendo o Islam e os Muçulmanos. São Bernardo do Campo: Junta de Assistência Social Islâmica Brasileira. 1990.